Estava aqui a pensar com os meus botões, eu penso muito com eles e por vezes até lhes peço opinião sobre algum assunto que tenho de tratar. Dizia eu. Estava aqui a pensar no meu dia-a-dia, no que tenho de inventar para fazer, para me manter ocupado, não cair no ócio…essas coisas que quando deixamos de trabalhar temos de engendrar para não padecermos de inércia. Anda uma pessoa a pensar na reforma uma vida inteira e depois temos de nos aborrecer com o que vamos fazer agora. Não é depois, é agora. Bom, aqui na minha terra existe um banco em frente ao mar onde se juntam os reformados, como existe em tantas outras terras. Mas naquele banco não se joga às cartas, nem se bebe um tintol, nada! Naquele banco fala-se, pensa-se a olhar o mar, sempre a olhar o horizonte. Foi, portanto, naquele banco que resolvi parte da minha preocupação. Trabalhar, para mim, em casa de manhã e socializar à tarde. Mas a minha chegada ao banco dos reformados não foi pacífica. Fui bem recebido, claro que sim....
Existem, sem dúvida alguma, pessoas que convivem bem com o avançar da idade. Outras passam por essa fase de uma forma mais complicada, não gerindo bem as chamadas “dores da idade”. Eu sou dos últimos. Lembrei-me de escrever estas parcas palavras sobre este assunto quando, na minha caminhada nocturna, ouvi a canção “Hier encore”, magistralmente cantada por Charles Aznavour. Uma canção com uma letra simples, dirão uns, uma letra que apenas poderia ser escrita por alguém que “sente”, e sente-se tão pouco nos dias de hoje, dirão outros. Mas, relativamente à letra, destacaria – erro meu destacar algo que só faz sentido no seu conjunto, impecavelmente contextualizado – a parte que refere: “[…] Ainda ontem, eu tinha vinte anos. Mas perdi o meu tempo, A cometer loucuras, Que no fundo não me deixam, Nada de realmente concreto, Além de algumas rugas na fronte, E o medo do tédio. […]” O percurso de vida que temos, cada um de nós, mais tarde ou mais cedo acaba por...
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