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A mostrar mensagens de outubro, 2024

A dois passos

  A Dois Passos   1. Acordara cansado, talvez pelo dia de ontem, não sabe, mas sentia-se cansado sem vontade de nada fazer, apenas ficar em casa. Olhou em volta e no meio daquela pequena divisão ainda dormiam os seus dois filhos, serenos, como que santificados e alheados das dificuldades da vida dura que lhes levava o pão à boca. A sua companheira já tinha partido, fazia pelos Passos dois anos, e nunca mais conseguiu ser o mesmo, os filhos notavam, embora pequenos, a quebra da força que sempre acompanhou e impulsionou o pai. Mas tinha de reagir, afinal não foi isso que sempre o motivou a sair de casa, descer a ladeira da Pederneira e trabalhar na praia junto dos colegas que tinha, embora nem todos fossem seus amigos? Para que é que um homem quer amigos quando não tem a sua companheira, quando vê a sua vida desmoronar-se de um momento para o outro? Mas, naquela manhã, as coisas eram diferentes, a sua força parece que o tinha abandonado definitivamente, sentia qu...

Gaivota

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Vi o teu olhar choroso. Juro que vi, que me emocionei. Juro que me apeteceu perguntar ao mundo porque que te tinhas ferido. Vi as tuas asas quebradas, inúteis, deitadas na areia da praia Juro que pensei que te podia salvar. Juro que te ouvi dizer, ajuda-me. Juro que te quis ajudar, mas como? Depois veio o mar e reclamou-te. E eu impotente vi o teu pequeno corpo cinzento e branco desaparecer na espuma do teu sustento.  

O monte

  Ao longe o monte, e tu nele, mais as flores que te rodeiam e as arvores que o rodeiam. Ao longe, estou eu, só e apenas a observar-te. Por momentos, pareces insinuar-te e eu aceno-te com a mão. As flores recolhem, As árvores elevam-se na direcção do céu, E nós vamos pelo monte acima, subindo, subindo, sempre, na escalada das nossas emoções.

Mar salgado

  Que sinto eu pelo sabor do teu sal? Sinto talvez a nostalgia dos tempos passados. Dos barcos por entrar na praia, Das mulheres ajoelhadas à espera, Dos meus sentimentos reprimidos, De todos os gritos que ficaram mudos, De todas as ondas que passaram, fortes, altas, ruidosa e brancas, Do vento que nos cresta a face, E finalmente, dos olhos deles lá, a olharem para cá, sem saberem quando e como.