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Gaivota

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Vi o teu olhar choroso. Juro que vi, que me emocionei. Juro que me apeteceu perguntar ao mundo porque que te tinhas ferido. Vi as tuas asas quebradas, inúteis, deitadas na areia da praia Juro que pensei que te podia salvar. Juro que te ouvi dizer, ajuda-me. Juro que te quis ajudar, mas como? Depois veio o mar e reclamou-te. E eu impotente vi o teu pequeno corpo cinzento e branco desaparecer na espuma do teu sustento.  

O monte

  Ao longe o monte, e tu nele, mais as flores que te rodeiam e as arvores que o rodeiam. Ao longe, estou eu, só e apenas a observar-te. Por momentos, pareces insinuar-te e eu aceno-te com a mão. As flores recolhem, As árvores elevam-se na direcção do céu, E nós vamos pelo monte acima, subindo, subindo, sempre, na escalada das nossas emoções.

Mar salgado

  Que sinto eu pelo sabor do teu sal? Sinto talvez a nostalgia dos tempos passados. Dos barcos por entrar na praia, Das mulheres ajoelhadas à espera, Dos meus sentimentos reprimidos, De todos os gritos que ficaram mudos, De todas as ondas que passaram, fortes, altas, ruidosa e brancas, Do vento que nos cresta a face, E finalmente, dos olhos deles lá, a olharem para cá, sem saberem quando e como.

O banco dos reformados

  Estava aqui a pensar com os meus botões, eu penso muito com eles e por vezes até lhes peço opinião sobre algum assunto que tenho de tratar. Dizia eu. Estava aqui a pensar no meu dia-a-dia, no que tenho de inventar para fazer, para me manter ocupado, não cair no ócio…essas coisas que quando deixamos de trabalhar temos de engendrar para não padecermos de inércia. Anda uma pessoa a pensar na reforma uma vida inteira e depois temos de nos aborrecer com o que vamos fazer agora. Não é depois, é agora. Bom, aqui na minha terra existe um banco em frente ao mar onde se juntam os reformados, como existe em tantas outras terras. Mas naquele banco não se joga às cartas, nem se bebe um tintol, nada! Naquele banco fala-se, pensa-se a olhar o mar, sempre a olhar o horizonte. Foi, portanto, naquele banco que resolvi parte da minha preocupação. Trabalhar, para mim, em casa de manhã e socializar à tarde. Mas a minha chegada ao banco dos reformados não foi pacífica. Fui bem recebido, claro que sim....

Alentejo

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  Hoje percebi que as minhas janelas se fecharam com a força de um tornado. Aquele bater seco da madeira, e o som dos vidros a saltar das velhas janelas, permaneceu na minha memória, apesar da embriaguez da canícula que esmorecia todo o meu Ser.  Debaixo da mesa olhava para o que aconteceu procurando uma explicação... Estava na minha casa isolada, bem perto da fronteira com Espanha - por ali não passa viv'alma!! - a ouvir uma das minhas músicas preferida e a ler, pela enesésima vez, a "Eternidade", de Ferreira de Castro. Ainda "arrelampado" por aquele acontecimento, olhei para a janela aberta e sem vidros. O sol, na sua vaidade enganadora, banhou-me a face, cobrindo o manto de devastação do velho monte alentejano com o dourado, também enganador, do seu sorriso. Fui à porta e banhei-me nos rasgos solares que perfuravam as nuvens negras. Aquele céu alentejano, de dia ou de noite, é incomparável. As janelas abriram-se e os vidros estilhaçaram, mas eu ganhei...

O Mar

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  O Mar salta na areia, sem parar. O Mar galga as pedras, sem temor. O Mar sopra na espuma, ventania. O Mar engole o homem, sem pudor. O Mar cansa-nos com o seu sal. O Mar cheira e sabe a sal. O Mar cobre-nos de vida, porque alimenta. O Mar alarga os horizontes. O Mar justifica o horizonte. O Mar é canção que não cala. O Mar, o nosso Mar, é tão diferente. O Mar, somos nós e ele.   Até que o Mar bateu à porta e num instante o seu corpo se deitou inerte no seu leito de amor.

Duas vertentes

  Tenho de confessar que este tipo de escrita não é a minha praia, mesmo que a tenha adotado antes da outra, a tal que há mais de duas décadas e meia ando a escrever. Confesso que ambas são complexas, mas esta é bem mais complicada, posto que exige aquilo a que eu chamo de “momento”. O “momento” em que pelos nossos dedos escorrem os pensamentos, as emoções, as “coisas todas” que nos fazem escrever. E são tantas e tão dificeis, pelo menos para mim, de articular. A outra escrita, mais fechada no seu mundo, não permite essa liberdade, essa evocação dos espíritos que habitam nos nossos pensamentos. Obriga a criar um qualquer texto que acrescente algo de novo a uma qualquer área da ciência. Já dizia um meu antigo professor de faculdade que “a investigação não é mais que o conhecimento das fontes e, claro, as ilações que o investigador tira das mesmas.” Assim se nota a “prisão” desse tipo de escrita e a liberdade da outra, aquela que humildemente vou escrevendo neste espaço. Neste ...